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Wednesday, June 16, 2010

A política é uma nuvem

Ouço comentários a respeito de uma já encomendada crise política no governo que vai suceder ao de Lula. Alguém diz que, vencendo Dilma a eleição, em dois anos eclodiria uma crise em razão das eleições municipais, quando o PMDB procurará fazer o maior número de prefeitos para assegurar amplo patrimônio político, com isso havendo grande conflito na base de sustentação do governo Dilma, entre PT e PMDB, pois o Partido dos Trabalhadores buscará obter o mesmo. Também se fala que Dilma não tem nem virá a ter o controle ou o comando do seu partido, e por isso o poder de que estará investida, tendo ela um vice-presidente apoiado pelo PMDB, acabará esvaziado. Caso Serra seja o vencedor, o conflito será conseqüente da derrota do PT e nascerá do confronto entre o partido e as bases sindicais e o governo eleito do PSDB. Essa análise, obviamente, é uma chantagem política e demonstra, pelo lado de quem a faz ou de quem a defende, total desrespeito pelas práticas democráticas. O jornalista Merval Pereira também, recentemente, fez avaliação , justificada pelo discurso de Lula no lançamento, dia 12 de junho de 2010, da candidatura Dilma, que afirmara a cédula eleitoral estaria vazia e, por isso, ele trocara de nome. Por isso, a hipótese de ter Lula como o fautor, criador e mentor da candidata, não é alentadora, sendo ela de fato uma criação dele, por conveniência, que possivelmente estaria apenas esquentando lugar para a eleição seguinte. O jornalista entende ser isto indicativo de crise certa, pois o presidente (ou presidenta) eleito passa a ter condições únicas de exercitar seu poder individualmente. Em resumo, temos uma candidatura artificialmente criada e estimulada como estratagema para superar o impedimento legal de se atribuir a Lula um terceiro mandato; um partido que se amolda a essa vontade dominadora, porque não tem alternativa viável nem lhe convém, politicamente, correr o risco de desafiar ao prócer e perder as eleições; outro partido sem líderes nacionais reconhecidos, mas detentor de máquinas eleitorais e partidárias poderosas nas diferentes regiões do país; e o partido desafiante (PSDB) dividido por lideranças regionais cujas expectativas individuais próprias são a da hegemonia interna dos respectivos grupos políticos em médio prazo. Para o desafiante isto já indicaria falta de estratégia política e de ideologia partidária consistentes. Por fim, um país que - após vinte e dois anos de regime democrático continuado e eleições livres - não construiu partidos ideologicamente fortes e articulados com os segmentos da sociedade que representassem, pois até mesmo o Partido dos Trabalhadores, à parte suas bases sindicais, nos últimos anos, abdicou da articulação orgânica com setores sociais ideologicamente convencidos e afins.

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